Comissão de Proteção ao Idoso

As alterações da perceção social do envelhecimento e a necessidade de integração das pessoas idosas

O envelhecimento populacional provocou alterações na perceção social das questões relativas às pessoas idosas.

O envelhecimento da população ocorre pelo aumento do número de pessoas idosas em consequência do aumento da esperança média de vida e pela redução do número de jovens provocada pela baixa taxa de natalidade. As pessoas idosas têm, assim, maior relevância na sociedade, seja em termos absolutos ou relativos. Por outro lado, em consequência da melhoria dos cuidados de saúde os idosos são cada vez mais pessoas ativas na sociedade.

Esta alteração levou a uma modificação das políticas públicas sobre o envelhecimento. As pessoas idosas deixaram de ser vistas como um grupo residual que justificava apenas uma intervenção assistencialista e passaram a ser consideradas um grupo com relevância social, tendo sido criados programas públicos para o envelhecimento, designadamente dirigidos à promoção do envelhecimento ativo e positivo.

Também ocorreram alterações ao nível legislativo, sendo de destacar o regime do maior acompanhado e o estatuto do cuidador informal.

Se o regime do maior acompanhado resultou fundamentalmente de fatores externos relacionados com a consagração no direito interno de convenções internacionais a que o Estado português aderiu e da jurisprudência do Tribunal Europeu dos Direitos Humanos sobre as incapacidades, o estatuto do cuidador informal resultou da iniciativa dos cidadãos e da pressão da opinião pública.

Esta diferença demonstra uma alteração da perceção das questões relacionadas com as pessoas idosas. O envelhecimento passou a ser entendido com uma fase normal do ciclo de vida que não implica necessariamente uma menor valorização pessoal. Os idosos passaram a ser considerados pessoas válidas e com relevância social que devem ser reconhecidas. Foi este sentimento generalizado que permitiu uma mobilização no sentido da melhoria dos cuidados e do reconhecimento dos cuidadores e que culminou com a aprovação do estatuto do cuidador informal.

Os estudos dirigidos aos jovens demonstram que têm uma perceção positiva do envelhecimento. Os jovens consideram o envelhecimento uma fase normal do ciclo de vida e afirmam que não têm receio de envelhecer. Além disso, salientam que estão de acordo com as políticas públicas sobre as pessoas idosas. A conclusão destes estudos é que ‘percebe-se uma mudança na visão negativa e estereotipada que historicamente a sociedade vem apresentando em relação às pessoas idosas, dando-se lugar a uma compreensão mais positiva e natural da velhice’ (Medeiros, 2021).

Em contrapartida, os estudos dirigidos aos idosos demonstram que têm uma perceção negativa do envelhecimento. As pessoas idosas relatam episódios da vida ativa que consideram positivos, mas têm dificuldade em referir o mesmo relativamente à velhice. Os idosos continuam a associar o envelhecimento a aspetos negativos como a tristeza, frustração e solidão. A conclusão destes estudos é que a perceção sobre o envelhecimento é predominantemente negativa (Lindôso, 2018).

Esta situação é pior nos idosos que estão institucionalizados. Nestes idosos a demência, a solidão e a depressão têm maior prevalência (Madeira, 2020).

A diferença entre a perceção dos jovens e dos idosos sobre o envelhecimento demonstra que ainda há muito trabalho a fazer. A intervenção na área do envelhecimento tem chegado às camadas mais jovens da população, mas não tem conseguido o mesmo resultado junto dos idosos. As conceções do envelhecimento ativo e do envelhecimento positivo conseguiram resultados na generalidade da população. Porém, é necessário que sejam impulsionadas melhorias efetivas da situação dos idosos. O sentimento das pessoas idosas relativamente ao envelhecimento varia de acordo com a sua situação pessoal. É também necessário fomentar uma maior integração e participação das pessoas idosas na sociedade. Os idosos que se sentem envolvidos atribuem menor relevância ao envelhecimento e destacam outros aspetos como a autoestima e a motivação.

Como afirma Crispim (2018), ‘a intervenção sócioeducativa precisa de renovar a forma como atua junto das pessoas adultas mais idosas, assumindo dinâmicas capazes de colocar no centro da ação cada indivíduo idoso e, consequentemente, a sua história de vida’.

 

Referências

  • Crispim, Ricardo (2018). Envelhecimento(s) e sociedade: empoderamento e protagonismo da pessoa idosa. Instituto Superior de Serviço Social do Porto. Disponível em http://hdl.handle.net/10400.26/30787
  • Lindôso, Zayanna Christine Lopes (2018). Perceção subjetiva de memória, identidade social e envelhecimento. Sociologia on line. Disponível em https://doi.org/10.30553/sociologiaonline.2018.16.2
  • Madeira, Teresa; Peixoto Plácido, Catarina; Sousa Santos, Nuno; Santos, Osvaldo; Alarcão, Violeta; Nicola, Paulo Jorge; Lopes, Carla; Clara, João Gorjão (2020). Avaliação geriátrica da população portuguesa com 65 ou mais anos a residir na comunidade. Projeto PEN-3S. Disponível em https://doi.org/10.20344/amp.12832
  • Medeiros, Josefa Wanilla da Costa; Vieira, Kay Francis Leal; Ferreira, Maria Denise Leite; Lucena, Adriana Lira Rufino (2021). Perceção de adultos jovens acerca do envelhecimento. Research, Society and Development. Disponível em http://dx.doi.org/10.33448/rsd-v10i17.24176