Iniciativa Partilha Casa - De mãos dadas com a intergeracionalidade
Nos tempos em que vivemos encontrar um lugar para viver é uma tarefa árdua e muitas vezes estafante. Isto porque, principalmente no que toca ao arrendamento, as preocupações são cada vez maiores, em particular quando falamos de jovens estudantes que, longe de casa e das suas famílias, têm de encontrar um sítio para ficar na área onde estão a estudar, sendo que, em regra, não auferem rendimentos e se veem na circunstância de terem de suportar o custo de propinas e outros custos igualmente significativos.
Ademais, como tão bem sabemos, o envelhecimento da população portuguesa – ou melhor, o seu tratamento escasso e indiferente – traz consigo vários dissabores, sendo a solidão nesta fase, em regra, tão vulnerável da vida, um dos maiores problemas que poderá surgir em consequência da reforma, da viuvez e até do abandono da própria família (Stannah). Além de ser uma problemática geradora de ‘sofrimento, angústia e isolamento social, [pode] desencadear sintomatologia psicótica, como insónias, ansiedade, depressão e até suicídio’ (Paula e Parreira).
A Comissão de Proteção ao Idoso tem encetado vários esforços no sentido de promover e divulgar iniciativas que garantam uma intergeracionalidade, algo que naturalmente não pode passar apenas pelo diálogo e pela consciencialização das pessoas, mas também pela prática e pela criação de possibilidades que concretizem o que se tem vindo a discutir. Neste sentido, partilhamos agradavelmente a iniciativa desenvolvida pela MEO que, debruçando-se sobre as necessidades de ambas as faixas etárias supramencionadas, criou o projeto Partilha Casa, em finais de 2023, sob o lema quando se abre uma porta, abre-se um coração.
‘Por trás [desta iniciativa] estão associações (…) responsáveis por fazer o cruzamento entre [o] sénior e [o] jovem. Atualmente, existem dois projetos associados: a Une.Idades, em Lisboa; e o Abraço Gerações, em Coimbra. São eles que, posteriormente, vão acompanhar todo o processo e fazer o match perfeito’ (Lopes).
Apesar de a iniciativa ainda ser apenas possível em Lisboa e Coimbra desejamos que seja acolhida nos restantes distritos do país, principalmente naqueles em que a solidão se acentua ainda mais, como será o caso das localidades do interior.
Podem participar os jovens entre 18 e 35 anos. Para este efeito terão de aceder ao site da iniciativa em https://www.partilhacasa.pt/ e realizar uma candidatura com base na localidade procurada e preenchendo alguns dados pessoas para que posteriormente as instituições competentes possam atribuir-lhes uma casa de um idoso que deverá ter mais de 60 ou 65 anos, entretanto tidos como compatíveis, após um processo de triagem. É dada a possibilidade de o idoso e o estudante se conhecerem pessoalmente no sentido de garantir que constroem uma boa relação, o que é indispensável para conseguir os fins idealizados. Se tudo correr conforme o esperado basta concluir o processo através da assinatura do protocolo ou do contrato.
Importa referir que até ao momento foram recebidas pela plataforma mais de uma centena de candidaturas de idosos e mais de meio milhão de universitários (Lopes), o que revela a oportunidade e a necessidade de se promover medidas como esta.
Desta forma, ‘[s]eniores que vivem sozinhos e têm um quarto disponível, podem ajudar jovens, acolhendo-os na sua habitação e beneficiar de companhia (…), [enquanto] jovens estudantes universitários deslocados do seu contexto familiar, encontram uma solução de alojamento acessível, num ambiente acolhedor e de partilha. Debaixo do mesmo teto, criam-se laços entre duas gerações’ (Iniciativa).
Elogiamos esta atividade que, além de responder à crise habitacional que atravessamos, promove um maior contacto entre os mais novos e os mais velhos no sentido de garantir que estes últimos têm uma companhia e ainda que se possam sentir mais úteis e inseridos na sociedade, direito que lhes assiste e pelo qual a Comissão de Proteção ao Idoso tem pugnado.
Ana Teresa Cruz
Licenciada em Direito
Mestranda em Direito das Crianças, Família e Sucessões na Escola de Direito da Universidade do Minho
Referências: