As Nações Unidas têm um projeto dirigido às mulheres idosas com o lema older women: invisible among the most vulnerable – mulheres idosas: invisíveis entre os mais vulneráveis.
A Comissão de Proteção ao Idoso destacou sempre este grupo em artigos que publicou e nas iniciativas que realizou.
O projeto das Nações Unidas serviu como fonte de informação – e impulso – para que as mulheres idosas fossem distinguidas como um grupo específico dos idosos.
A esperança média de vida das mulheres é maior do que a dos homens em praticamente todo o mundo. As mulheres representam 55% da população com 65 ou mais anos e as mulheres idosas são 62% das pessoas com mais de 80 anos.
A convenção sobre a eliminação de todas as formas de discriminação contra as mulheres (1979) estabeleceu a constituição de um comité de peritos que pode elaborar recomendações e sugestões dirigidas aos Estados partes. Este comité elaborou uma recomendação sobre a discriminação contra as mulheres idosas (2010).
Embora tanto os homens como as mulheres sejam objeto de discriminação à medida que envelhecem, as mulheres vivem o envelhecimento de forma distinta. O efeito das desigualdades de género ao longo da vida agrava-se com a velhice e com frequência baseia-se em normas culturais e sociais profundamente arreigadas. A discriminação de que sofrem as mulheres idosas pode ser o resultado de uma distribuição injusta de recursos, maus tratos, abandono e restrição do acesso aos serviços básicos.
Nova Iorque, 16 de dezembro
Esta questão também é tratada noutros instrumentos como o plano de ação internacional de Viena sobre o envelhecimento (1982), os princípios das Nações Unidas a favor das pessoas idosas (1991) e o plano de ação internacional de Madrid sobre o envelhecimento (2002).
Ser mulher continua a ser um fator de discriminação, marginalização e preconceito. Em muitas partes do mundo as mulheres são marginalizadas por conceções sociais ou práticas tradicionais ou consuetudinárias. Noutras partes as mulheres são discriminadas no acesso ao mercado de trabalho, nos salários e na conjugação entre a atividade profissional e a vida familiar. As mulheres são menos numerosas do que os homens no setor do emprego estruturado e muitas vezes continuam a ter um salário inferior pelo mesmo trabalho.
A desigualdade é muitas vezes ampliada pela cumulação de fatores de discriminação. As mulheres idosas combinam a discriminação pelo género com a idade. Podem acrescer condições específicas como as mulheres com deficiência ou migrantes que agravam a sua situação.
O principal problema das mulheres idosas é a pobreza. As Nações Unidas costumam referir-se à pobreza das mulheres idosas com a expressão old-age poverty has a woman’s face – a pobreza na velhice tem o rosto de uma mulher.
As mulheres são as principais cuidadoras. Em Portugal as mulheres despendem praticamente o dobro do tempo do que os homens em tarefas domésticas. A dificuldade de conciliação entre a prestação de cuidados e uma atividade profissional leva a que um número muito elevado de mulheres não consiga trabalhar. Na Europa existem 7,7 milhões de mulheres que não trabalham porque são cuidadoras. As mulheres cuidadoras que conseguem trabalhar fazem-no a tempo parcial ou de forma intermitente o que implica rendimentos inferiores. A insuficiência de rendimentos coloca as mulheres numa situação de dependência dos familiares (maridos, companheiros ou filhos). Na velhice, especialmente na viuvez, estas mulheres deixam de ter o suporte da família e deparam-se com uma situação em que não têm reformas ou poupanças suficientes para uma vida com dignidade. O risco de pobreza nas mulheres entre os 65 e os 74 anos é maior do que nos homens e a diferença aumenta nas mulheres com 75 ou mais anos.
A pobreza das mulheres foi o tema central da 68ª conferência anual das Nações Unidas sobre o estatuto da mulher (2024).
A Comissão reconhece que os preconceitos sistémicos incorporados nas estruturas económicas e sociais da sociedade expõem as mulheres e as raparigas a um risco desproporcionalmente elevado de violência e que, por sua vez, a violência aumenta o risco de pobreza, dificuldades económicas, dependência financeira, exclusão económica e sem-abrigo das mulheres, incluindo na velhice, devido, entre outras coisas, às despesas correntes associadas com a saúde, à perda de rendimentos e à participação desigual no mercado de trabalho, o que pode traduzir-se num acesso limitado ou inexistente às prestações contributivas da segurança social. Condena ainda toda a violência sofrida pelas mulheres que inclua ações destinadas a torná-las financeiramente dependentes ou a exercer um controlo abusivo das finanças e reconhece que a independência económica das mulheres pode expandir as suas opções para abandonar relações abusivas e violentas.
Nova Iorque, 11 e 12 de março
Outro aspeto que caracteriza as mulheres idosas é a vulnerabilidade ao abuso e à violência. Em resultado de uma vida com baixos rendimentos e dependência económica as mulheres idosas podem ter uma baixa autoestima e consideram normais tratamentos discriminatórios, abusivos ou violentos. Formas específicas de abuso como a violência económica são toleradas ou ignoradas.
As Nações Unidas instaram os Estados membros a renovarem o compromisso de acabar com todas as formas de abuso e violência contra as mulheres idosas (2022).
A violência contra as mulheres idosas continua a ser uma questão tácita em muitas sociedades e um tabu baseado em preconceitos e estereótipos sexistas e de idade profundamente enraizados e em normas culturais e sociais discriminatórias. As dinâmicas de poder e as desigualdades que levam à violência emocional, financeira, material, física e sexual tendem a agravar-se com a idade.
Genebra, 14 de junho
As mulheres idosas são muitas vezes esquecidas ou sub-representadas nas estatísticas e nas políticas. A maioria dos inquéritos e das iniciativas é dirigida às mulheres com idade entre os 14 e os 49 anos. Foi criado o projeto UN Women Count para melhorar a recolha de dados relativos ao género e a sua utilização na produção de leis e na elaboração das políticas e programas.
As Nações Unidas têm feito recomendações relativas à questão das mulheres idosas: