O envelhecimento está associado a mudanças nos processos fisiológicos, psicológicos e comportamentais.
Algumas mudanças relacionadas com o envelhecimento são positivas.
Outras consistem num declínio das funções que gera uma maior suscetibilidade para doenças ou incapacidade.
O envelhecimento não é uma doença, mas é um fator de risco para doenças crónicas como a alzheimer ou outras demências.
A relação do envelhecimento com a doença manifesta-se no aumento da suscetibilidade à doença (fragilidade) e na diminuição da capacidade de suportar a doença (resiliência).
A abordagem tradicional consiste no entendimento da doença para encontrar novas formas de prevenção e tratamento. Esta abordagem é dirigida à investigação e estudo da biologia básica subjacente à doença. Por outro lado, é uma abordagem em que cada doença é estudada isoladamente.
A gerociência propõe uma abordagem centrada no entendimento dos processos relativos ao próprio envelhecimento. Esta abordagem é dirigida ao conhecimento dos processos do envelhecimento. Pretende-se conhecer a fisiologia do envelhecimento (pilares biológicos do envelhecimento) e os mecanismos genéticos, moleculares e celulares que o tornam um fator de risco e impulsionador de condições para doenças comuns nas pessoas idosas.
Considera-se que o envelhecimento representa um fator comum que afeta o início e a progressão da doença e que o seu conhecimento permite encontrar novos tratamentos, novas técnicas de diagnóstico e estratégias de prevenção que podem retardar o aparecimento da doença e a sua progressão, reduzindo-se a carga da doença e as incapacidades relacionadas com a idade.
O objetivo principal da gerociência não é aumentar a expetativa de vida, mas entender a biologia do envelhecimento para melhorar o tempo de saúde e retardar a doença.
A idade (passagem do tempo) não pode ser alterada. O envelhecimento pode ser manipulado com medidas preventivas como os hábitos de vida saudáveis, mas também com o desenvolvimento de novos tratamentos que permitem retardar os seus efeitos em situações de doença.
Este entendimento permite uma abordagem mais holística. Geralmente, o estudo das doenças centra-se no órgão primário afetado. Na alzheimer a investigação centra-se no cérebro que é o principal órgão afetado por esta doença. Com a gerociência são estudados outros aspetos como o metabolismo geral o que permite intervenções noutras áreas que podem traduzir-se em ganhos significativos para o retardamento da doença e a qualidade de vida.
O estudo de cada doença isoladamente não é o mais adequado para as pessoas idosas. As doenças crónicas relacionadas com o envelhecimento são complexas e multifatoriais. Além disso, em regra as pessoas idosas que sofrem de uma doença crónica têm outras doenças associadas (multimorbidade). A gerociência permite um conhecimento mais global que inclui estes aspetos.
Como afirma Nir Barzilai, investigador de genética do envelhecimento no Albert Einstein College of Medicine, ‘o pior cenário é a longevidade com um longo período de doença. Temos que conseguir viver mais com menos anos de doença’.
Referências
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